Prosimetron

Prosimetron

quarta-feira, 17 de junho de 2009

De Luís de Camões a Natália Correia: quatro séculos "do pensar" português

Lusíadas, Canto X, Estrofes 146, 155 e 156!

Canto X
x
146
E não sei por que influxo de Destino
Não tem um ledo orgulho e geral gosto,
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto.
Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho estais no régio sólio posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só de vassalos excelentes

155
Pera servir-vos, braço às armas feito,
Pera cantar-vos, mente às Musas dada;
Só me falece ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada.
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pres[s]aga mente vaticina
Olhando a vossa inclinação divina,

156
Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.

Luís de Camões, Os Lusíadas, Lisboa: Imprensa Nacional de Lisboa, sd.

A verdadeira litania para os tempos da revolução
x
Burgueses somos nós todos
ó literatos burgueses
somos nós todos ratos e gatos Mário Cesariny
Mário nós não somos todos burgueses
xx
os gatos e os ratos se quiseres,
os literatos esses são francesese
todos soletramos malmequeres.
Da vida o verbo intransitivo
x
não é burguês é ruim;
e eu que nas nuvens vivo nuvens!
o que direi de mim?
x
Burguês é esse menino extraordinário
que nasce todos os anos em Belém
x
e a poesia se não diz isto Mário
é burguesa também.
x
Burguês é o carro funerário.
Os mortos são naturalmente comunistas.
Nós não somos burgueses Mário
x
o que nós somos todos é sebastianistas.
x
Natália Correia, inéditos

1 comentário:

Anónimo disse...

São tantos os escritores a dizerem bem quantos os que dizem mal.
J.