Prosimetron

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quinta-feira, 5 de março de 2009

Os limites da arte ( ? ) - 1


Começo com a recente polémica à volta dos britânicos irmãos Chapman e das aguarelas de Hitler. Como é sabido, Hitler pintou centenas de aguarelas até trocar a pintura pela política com os resultados que conhecemos. Os iconoclastas Jake e Dino Chapman compraram num leilão onze aguarelas pintadas por Hitler e trabalharam sobre elas, acrescentando-lhes soldados mortos, pontes destruídas, arco-irís e formas geométricas coloridas. Deram-lhes o título colectivo de March of the Banal (Marcha do Banal ) .
Este conjunto de aguarelas "transformadas" pelos Chapman foi exposto e vendido na recente 35ª FIAC-Feira Internacional de Arte Contemporânea de Paris a coleccionadores privados europeus por 815.000 euros, no meio de intensa controvérsia.
Para além da propriedade material de uma obra de arte, existe o direito moral ou intelectual do artista que é normalmente exercido pelos seus descendentes ou por um executor de testamento. Mas no caso de Hitler, deve o seu direito de autor ser protegido? E se fosse outro o artista?
O que nos remete para o título que escolhi- os limites da arte. Quem os define? Devem existir sequer? Ou arte é tudo o que o mercado compra?

14 comentários:

Anónimo disse...

Se Hitler não tivesse chumbado quando se candidatou à escola de Belas Artes, se calhar o mundo teria sedo diferente.
Luís, sabe o que se passa em relação aos direitos de autor de Mein Kampf? Acho que os direitos de autor sobre as pinturas devem ser tratados de modo idêntico.
Por mais maravilhosas que as aguarelas fossem não as queria em casa. Nem no armário!
M.

Anónimo disse...

Esta secção promete...
M.

Anónimo disse...

Caro Luís Barata,
As questões que coloca são pertinentes e interessantes.
julgo que deveriam ser preservadas. Hitler é uma personagem odiosa mas tinha um bom gosto e sensibilidade artísticas.
Julgo que aqui devia ter havido limites.
Jake e Dino Chapman poderiam ter feito o seu trabalho a partir das aguarelas, colocando as suas telas como prolongamento do que Hitler fez. Assim, para mim fazia sentido. O que eles fizeram foi assassinar uma obra. Respondendo às suas questões:
"Mas no caso de Hitler, deve o seu direito de autor ser protegido?"
Sim, devia. Não podemos apagar a História ou enfiar a cabeça na terra como uma avestruz.
E se fosse outro o artista? O que nos remete para o título que escolhi- os limites da arte. Quem os define? Devem existir sequer?
Quem os pode definir não sei. Quanto à segunda pergunta penso que não deve existir limites na criação desde que não se destrua o que foi feito noutra época e que faz parte de uma realidade. Não podemos esquecer que Hitler foi uma personalidade que marcou o século XX e hoje, somos resultado das suas acções. Foi odioso mas temos que viver com isso. Todas as pessoas têm um lado positivo e outro negativo. Aqui a balança pendeu para o mais negativo. A frieza tem que ser utilizada neste caso.
Ou arte é tudo o que o mercado compra?
Definir arte é complexo porque o que para mim pode ser arte para outro pode não ser. Na minha opinião, arte é aquilo que eu gosto ou até não gosto mas avalio como um acto criador e criativo, sem se preocupar com os lucros. Há muito boa gente que pensa que é artista só por chocar. isso para mim não serve.

M,
Também não queria em minha casa nada do Hitler."Nem no armário". Realmente foi pena ter chumbado talvez o rumo dos acontecimentos fosse diferente. Quannto a Mein Kampf, ele foi escrito e é um documento como tal deve ser preservado. É uma fonte para ser criticada.
Reparo que sou sempre do contra mas espero que não levem a mal a minha frieza.
A.R.

Anónimo disse...

Concordo com M, é prometedora esta secção. Parabéns Luís Barata.

Anónimo disse...

A última mensagem foi minha
A.R.

Anónimo disse...

A.R,
Alguém falou em destruir Mein Kampf? Eu até já o li. O que eu disse é que a questão dos direitos de autor em relação a Hitler deve ser tratada de igual modo quer quanto a escritos, quer quanto à pintura.
E depois do que ele fez à Alemanha e ao Mundo, penso que os alemães devem ter feito uma legislação especial em relação aos seus bens. E é no seguimento dessa legislação (se a houver) que se deve actuar.
A minha opinião é que Hitler como pintor era fraco. Os seus quadros não teriam era feito nenhum mal à Humanidade nem teriam alterado o curso da Arte. Se tinha «bom gosto», não sei. A avaliar pela sua própria figura...

Luís,
Gostava de saber se as aguarelas foram alteradas no próprio papel em que foram feitas.

De qualquer modo, e abstraindo deste caso, quando os direitos de autor se encontram no domínio público, o Estado devia olhar para evitar assassinatos no seu património literário, já que o outro é mais visível. Faz-se cada edição!!!
M.

LUIS BARATA disse...

Cara M,
Os acrescentos dos irmãos Chapman foram feitos mesmo por cima das aguarelas de Hitler.
Pois, realmente é uma questão muito interessante tanto do ponto de vista do Direito de Autor, como na perspectiva da Teoria ou da Filosofia da Arte.
Realmente, a História teria sido certamente diferente se Hitler tivesse tido sucesso, e desde logo admitido na Academia de Belas-Artes de Viena onde tentou entrar por 3 vezes...

Cara A.R.,
Quanto ao bom-gosto e sensibilidade artística de Hitler, tenho as minhas dúvidas. Era demasiado classicista, demasiado canónico mesmo para a sua época. Daí o seu ódio pelas vanguardas, com reflexos nas artes durante o III Reich, com destruição massiva do que ele chamava "arte degenerada".Não é por acaso que o escultor do regime é o Arno Brecker, quer um exemplo melhor?

Anónimo disse...

M,
Desculpe, li sem olhos de ver, ou foi a sua reacção às obras que me levaram a esta levianismo. Sim, já li alguma coisa sobre os direitos de autor e a necessidade de a obra ser comentada. Mas já li há algum tempo.
Julgo que deve continuar a ser observada a forma como se publica e deve ter um comentário feito por historiadores.

Luís,
O classicismo não é necessariamente mau há coisas boas. Quando falei na sensibilidade artística referia-me ao seu gosto pela música, nomeadamente, Wagner, e pelas obras de arte greco-romana, renascentistas e barrocas. Quanto às vanguardas que adoro, nesse aspecto o Luís tem razão.
Adorava ter vivido entre as duas guerras e ter vivido intensamente o vanguardismo artístico. Claro do lado certo da sociedade!
A.R.

Jad disse...

Cara A.R.
Todos nós costumamos dizer que gostaríamos de ter nascido ou vivido na época tal e tal. Mas se efectivamente lá tivéssemos nascido não gostávamos e queríamos antes ter nascido noutra época. São poucos os que conseguem gostar mais da época em que vivem do que em outras épocas. Eu adoro viver na época em que vivo (gostaria que algumas coisas se tivessem mantido até aos dias de hoje, especialmente o culto pelo requinte de se vestir). Aliás quando me falam do famoso livro, de Peter Laslett, "O mundo que perdemos" eu contraponho com "O mundo que ganhámos" (este livro é um sonho).

Quanto ao Post
Quanto à obra de Hitler deve ser conservada, conforme foi produzida. Sou e sempre fui contra modificações, alterações e destruições de obras de arte ou de livros. Cada um tem a sua época. Cada um é um documento histórico que se deve respeitar e conservar. Ou então estamos a destruír a História.

Os gregos fizeram estátuas de nus que outros vestiram ou mutilaram. O renascimento pintou o que outros repintaram e hoje voltamos (quando o podemos fazer) a “despintar”... Um dos trabalhos mais engraçados foi o do conservador que encontrou uma famosa caixa de “pirilaus”de pedra retirados de estátuas clássicas existentes no Vaticano e que andou vários meses a tentar encontrar o lugar certo para voltar a “encaixar” o dito cujo no primitivo lugar. Qualquer dia haverá quem retire o que os irmãos Jake e Dino Chapman colocaram.

Anónimo disse...

Como é óbvio acho anormal que repintassem.
O único interesse das aguarelas é terem sido pintadas por Hitler porque senão ninguém olhava para elas.
Pode ser que noutra ocasião venhamos a discutir o que se passa com a publicação das obras literárias quando caem no domínio público. E não só. O que certas famílias permitem que se faça.
E não me refiro só ao Pessoa.
M.

Miss Tolstoi disse...

Isto promete. Será que vai chegar aos 30 comentários?

Anónimo disse...

Sinceramente, acho que foi uma bela operação de marketing por parte dos Srs.Chapman. Aliás,cada vez mais estes "jovens artistas" são peritos na autopromoção com fins lucrativos.

Anónimo disse...

Caro Jad,
Estou completamente de acordo com o que diz. Devem preservar-se as obras tal como se encontram, pois elas são um precioso documento histórico.
Não aprecio de modo nenhum a figura de Hitler. Foi bárbaro insensivel, nem arranjo um bom adjectivo. Passou as fronteiras do bem e do mal. No entanto, foi uma personagem histórica e, como tal, tudo o que produziu deve ser guardado para estudo.
Não conheço o livro "o mundo que ganhámos", de quem é?
Parece anedota o que conta do conservador do Vaticano e tem toda a razão, qualquer dia retiram o que os Chapman repintaram. Já se fez.
A.R.

Anónimo disse...

Hitler ultrapassou as fronteiras do bem. Em quê?