Prosimetron

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quarta-feira, 4 de março de 2009

VERDADE POÉTICA, Eugénio de Andrade!

O que é a verdade?
A poética é sempre mais aceitável...
Eugénio de Andrade

VERDADE POÉTICA

Há quantos anos estás aí, na eira
ou no telhado, esgadanhado
o pão difícil sol a sol,
aceitando as migalhas do nosso coração,
compartilhando entre a poeira
a cama da nossa obscura condição;
irmão do libidinoso e romano
pássaro de Catulo no seio
de Lésbia; sempre
à nossa roda, mais verdade poética
que criatura natural, como um poeta
americano disse do pardal.
Hoje é um português nada orgulhoso
de o ser que te abre as portas
do poema e te convida a entrar,
pois não fizeste do teu canto um luxo
nem traficaste com o bem comum,
por isso como os garotos da rua
descobres o gosto da vida
até num charco de água turva

Eugénio de Andrade, Antologia Breve, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005 (7ª Edição) p. 121-122.

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