Prosimetron

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quarta-feira, 3 de março de 2010

Leituras no Metro - 9


Postal antigo.

Interior da igreja na actualidade.

«Hoje, é difícil imaginar o passado faustoso de São Julião, o Pobre, que parece ter estado á espera dos nossos tristes tempos modernos para poder merecer por completo o seu cognome. Só de forma ténue podemos imaginar esta igreja na época em que um priorado lhe foi adstrito e em que cinquenta religiosos cantavam sob as suas abóbadas, e é-nos difícil entender que uma das mais belas cerimónias da Idade Média terá acontecido neste lugar que a nossa pobreza espiritual tornou tão humilde. Era aqui, no entanto, que o rector magnificus da Sorbonne transmitia ao seu sucessor o manto de arminho e o saco de veludo contendo o selo da universidade. Era aqui também que, a 11 de Junho de cada ano, o corpo universitário se reunia com grande pompa para se dirigir depois à feira do lendit [feira tradicional que se realizava em St. Denis, nos arredores de Paris] onde comprava o pergaminho de que necessitava. Desde o nascer do sol, a rua Galande, a rua do Fouarre, a rua Saint-Séverin e a rua Saint-Jacques eram acordadas pelos tambores e pelas trombetas dos estudantes, muitos dos quais brandiam lanças, espadas ou mocas sem nenhuma razão para isso, além da sua juventude e de um gosto natural pelo tumulto. De toda esta vida plena, intensa e alegre que foi a vida de uma época que não igualamos, o que resta neste bairro, para lá do nome?»
Julien Green (1900-1998)
In: Paris / trad. Carlos Vaz Marques. Lisboa: Tinta-da-China, 2008, p. 30-31

Pois eu, hoje, gostaria de estar, neste momento, a ouvir um concerto de piano por Jean-Christophe Millot, neste local.

Agora, um pouco careca.

E, de seguida, ir comer umas moules, ao Châtelet.

http://farm3.static.flickr.com/2801/4233283748_de43d0af56.jpg

3 comentários:

Jad disse...

Eu também

MR disse...

A tradução de Carlos Vaz Marques é boa, mas não concordo nada com a opção dele em ter traduzido St. Julien-le-Pauvre. E principalmente quando não traduziu Sorbonne por Sorbona.

LUIS BARATA disse...

Idem quanto à nostalgia. Com o pormenor curioso de a igreja, uma das mais antigas de Paris, estar hoje entregue ao culto ortodoxo.